Cotidiano Memória

A história da ex-primeira-dama que nasceu nas colônias de São Bernardo

Marisa Letícia Rocco Casa nasceu em São Bernardo do Campo no dia 7 de abril de 1950.  Na cidade, cresceu, estudou, trabalhou e construiu sua militância política.

Casada com Lula, desde 1974, teve quatro filhos, sendo um do primeiro casamento com o taxista Marcos Cláudio da Silva.

Neta de italianos, Marisa Letícia era a penúltima filha do casal Antonio João Casa e Regina Rocco Casa, pais de 11 filhos.

Tanto os Rocco como os Casa descendem de famílias cujo tronco tem origem na Itália e chegaram à cidade para viver nas chamadas colônias, nome dado aos loteamentos ocupados por imigrantes.

Até os cinco anos de idade, Marisa viveu com a família no antigo sítio dos Casa, onde seu avô construiu a capela de Santo Antônio, que ainda existe. Hoje toda área chama-se bairro dos Casa, em homenagem a sua família, uma das primeiras a chegar ao local.

Em 1955, a família mudou-se para o centro de São Bernardo. A primeira escola que Marisa frequentou era de madeira. Na terceira série, foi transferida para o Grupo Escolar Maria Iracema Munhoz.

Com 13 anos, empregou-se na Dulcora. Sem carteira de trabalho, o pai assinou uma autorização para que pudesse trabalhar como embaladora de bombons. Permaneceu na fábrica até os 21 anos, quando engravidou do seu primeiro filho.

Em 1973, viúva e mãe de um filho do primeiro casamento, Marisa Letícia voltou a trabalhar. Desta vez, como inspetora num colégio do Estado. Neste mesmo ano, conheceu Lula, no Sindicato dos Metalúrgicos. Sete meses depois se casaram e passou a adotar o sobrenome do marido.

Em 1975, Lula foi eleito presidente do sindicato. Em 10 de fevereiro de 1980, ocorreu a fundação do PT. A primeira bandeira foi cortada e costurada por Marisa. Ela também ajudou a criar os núcleos e a estampar camisetas para arrecadar fundos para o partido.

Em abril do mesmo ano, o Governo Federal decretou intervenção no sindicato. Sem espaço para reuniões, a casa de Marisa virou palco para os encontros de sindicalistas, políticos, artistas e intelectuais.

Quando Lula e outros dirigentes sindicais foram presos, ela ajudou a organizar a passeata de mulheres pela libertação dos sindicalistas saindo da Praça da Matriz, seguindo pela Rua Marechal Deodoro até o Paço Municipal.

Nas disputas eleitorais entre 1982 e 1998, dividiu o seu tempo entre a casa e a vida política do marido. Em 2002, já com os quatro filhos adultos, pôde dedicar-se exclusivamente à campanha daquele ano. Em 1º de janeiro de 2003, Marisa Letícia tornou-se a primeira-dama do Brasil.

No período em que morou no Palácio da Alvorada, entre 2004 e 2011, optou por não se envolver nos assuntos políticos do marido, mantendo atuação discreta. Depois dos dois mandatos de Lula, a vida de Marisa ficou centralizada em São Bernardo.

Em setembro de 2016, Marisa tornou-se ré na Operação Lava Jato em denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal e acolhida pelo juiz federal Sérgio Moro.

Ela respondia pela acusação de lavagem de dinheiro por conta de um apartamento tríplex no Guarujá. O imóvel (e reformas feitas nele) seria resultado de propinas recebidas do Grupo OAS.

Também teve seu nome envolvido na investigação da Polícia Federal, no âmbito da Lava Jato, sobre o sítio de Atibaia, de propriedade dos empresários Fernando Bittar e Jonas Suassuna.

Segundo relatório da PF, Marisa e Lula seriam donos do sítio e teriam orientado reformas de mais de R$ 1 milhão na propriedade.

Os advogados do casal sempre afirmaram que o mesmo não era proprietário do apartamento ou do sítio e que agiram de acordo com a lei.

No dia 24 de janeiro deste ano, Marisa deu entrada no Hospital Assunção após sofrer um AVC. Transferida para o Sírio-Libanês, em São Paulo, ficou internada em estado crítico até ter sua morte cerebral decretada nesta quinta-feira, 2 de fevereiro.

A família autorizou a doação de órgãos. O velório deve ocorrer no Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo (saiba mais aqui).

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