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A trajetória e realidade da população negra em São Bernardo

A história demográfica de São Bernardo é marcada por um crescimento explosivo impulsionado pela indústria nos anos 1950, mas também por uma presença negra constante e estruturante que remonta aos primeiros assentamentos.

Os primeiros levantamentos sistemáticos documentam a presença da população negra na região, que englobava o atual Grande ABC, desde o século 18, quando ainda estava vinculada à capital paulista.

Uma lista de 1779 indicava que, de um total de 1.714 habitantes, 615 eram escravizados, representando 35,9% do total de moradores.

Em 1829, outro levantamento, já com a criação da Freguesia de São Bernardo (1812), apontou 1.611 indivíduos, dos quais 525 eram pardos, 342 negros e 737 brancos. Os escravizados somavam 342.

A presença negra foi, portanto, uma característica demográfica expressiva no território muito antes de sua industrialização.

O Censo Republicano de 1890, registrou 7.276 habitantes, mas com um perfil étnico-racial transformado pelo fluxo de imigrantes europeus: 81% de brancos, 3% de pretos, 7% de caboclos e 9% de mestiços.

Após a emancipação em 1944 e a instalação do novo município de São Bernardo do Campo em 1945, a cidade sentiu os primeiros efeitos da Via Anchieta e da chegada de grandes indústrias.

Os grandes saltos demográficos ocorreram entre 1950 e 1980, devido à migração massiva de todo o Brasil, atraída pelas oportunidades de emprego.

Esta migração foi o fator determinante para o crescimento da população negra. Nos últimos censos, essa população já representava 34% dos cerca de 800 mil munícipes são-bernardenses.

O impacto da migração industrial resultou em uma distribuição populacional concentrada em áreas periféricas. Dados do IBGE apontam, por exemplo, que Montanhão e Alvarenga são os bairros com maior percentual de população negra da cidade hoje em dia.

Diante da mudança no crescimento populacional, o foco das políticas públicas deveria migrar para a qualidade de vida e a redução de desigualdades dentro da população estável, mas não é o que se viu na prática nos últimos anos.


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