Em maio de 1975, o repórter Marco Antônio Montadon, da Folha, veio a São Bernardo confirmar o relato de que havia nascido uma criança com “chifre e rabo”. Mas eram apenas más formações, corrigidas com cirurgias.
Montadon transformou a história numa crônica de terror e a direção do Notícias Populares (NP), famoso pelo sensacionalismo, convocou outro repórter para “repaginar” o texto e transformá-lo no “nascimento do bebê-diabo”.
O jornal foi hábil em procurar médicos e diretores do hospital, e usar a negativa deles de modo que gerasse ainda mais suspeita (e medo) no público.
Foi assim que no dia 11 de maio de 1975 a manchete do NP anunciava: “Nasceu o diabo em São Paulo”.
A notícia dizia que, em um hospital de São Bernardo do Campo, ocorrera um “parto incrivelmente fantástico e cheio de mistérios”, marcado por “correria e pânico por parte de enfermeiras e médicos”.
Segundo a publicação, o bebê tinha “aparência sobrenatural, com todas as características do diabo, em carne e osso”. A criança possuía dois chifres pontiagudos, um rabo de aproximadamente 5cm e o olhar feroz “que causa medo e arrepios”.
A notícia e o desdobramento da história duplicaram a tiragem do jornal. Apesar do sucesso, o editor-chefe relutou em seguir com o caso, mas a direção mandou continuar. No total, foram produzidas 27 reportagens.
O NP explicou por que o bebê nasceu assim. Após ser convidada para uma procissão na Semana Santa, a mãe teria batido na barriga e afirmado: “Não vou enquanto esse diabo não nascer”.
E ainda, de acordo com um suposto médico, teria criado “descargas magnéticas negativas” ao desabafar: “Por causa desse diabinho, não posso ir dançar.”
Outra edição do jornal contou que o bebê-diabo ameaçou funcionárias de morte, rasgou travesseiros com os chifres e fugiu do hospital, saltando de uma janela do 3º andar. Feiticeiros, fanáticos religiosos e até o Zé do Caixão se dispuseram a acabar com a criatura.
No meio da trama, o NP chegou a noticiar que o pequeno maligno foi capturado por um grupo de religiosos e teria sido internado em uma clínica particular de São Bernardo.
A saga parecia ter chegado ao fim não fosse o fato do diabinho ter sido sequestrado por outro grupo de fanáticos e levado para o Nordeste para que pudessem dar um fim à vida do pequeno maligno.
Com o decorrer do tempo, a história foi esfriando e ganhando cada vez menos destaque, mas uma última manchete, publicada em junho de 1975, ainda tentou atiçar a população: “Povo vê de novo bebê-diabo no Grande ABC”.
O jornal Notícias Populares ainda renderia outras manchetes sensacionalistas até janeiro de 2001 quando a Folha decidiu encerrar suas atividades.
Imagens: Reprodução / Acervo Folha