Colunistas Cotidiano

Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio: cada história merece continuidade

Por Bianca Breda*

O suicídio é uma realidade dolorosa que, muitas vezes, acontece em silêncio. Segundo dados da OMS, mais de 700 mil pessoas tiram a própria vida todos os anos no mundo e, no Brasil, cerca de 44 pessoas morrem por dia dessa forma. Cada número representa uma história interrompida, uma família impactada e um círculo de amigos que carrega perguntas sem respostas. Falar sobre esse tema não é apenas citar estatísticas, mas reconhecer que existe sofrimento real por trás delas.

O sofrimento psíquico raramente é evidente. Muitas vezes, ele se esconde atrás de sorrisos, compromissos cumpridos e uma aparente normalidade. Por dentro, porém, podem existir noites de insônia, pensamentos repetitivos, perda de energia e uma sensação persistente de vazio. Para quem vivencia essa dor, pedir ajuda pode soar como um peso adicional — e, para quem convive, pode ser difícil distinguir entre um momento difícil e um risco real. É justamente nesse espaço de silêncio que a prevenção se torna vital. Mais do que campanhas e números, ela nasce de algo profundamente humano: oferecer presença, escuta e cuidado genuíno, lembrando que cada gesto de atenção pode ser o fio que liga alguém novamente à vida.

É por isso que falar sobre suicídio é tão importante. Não se trata de tabu ou de um tema distante, mas de algo que pode atravessar qualquer família, qualquer ambiente de trabalho, qualquer círculo de amizades. Para muitos, o sofrimento aparece como uma sensação constante de exaustão ou pensamentos de que “não há saída”. Nesse cenário, é essencial olhar para dois caminhos complementares: o de quem vive a dor e precisa de acolhimento, e o de quem está por perto e pode perceber sinais, oferecendo suporte e encorajando a busca por ajuda profissional.


Para quem está em sofrimento

Se você tem vivido dias pesados, talvez já tenha sentido essa exaustão que parece não ter fim ou pensamentos de que não existe saída. É importante lembrar: esses pensamentos são um reflexo do quanto a sua mente está sobrecarregada, não um retrato fiel de quem você é ou do que merece viver.

Buscar ajuda não é sinal de fraqueza, mas de coragem. A psicoterapia, os cuidados médicos e até mesmo práticas integrativas podem abrir caminhos para aliviar a dor, reorganizar os pensamentos e resgatar a esperança. Pequenos gestos também fazem diferença: estabelecer uma rotina de sono, praticar atividade física leve, conversar com alguém de confiança ou simplesmente permitir-se descansar.

Você não precisa enfrentar isso sozinho. Falar sobre o que sente pode ser o primeiro passo para construir uma nova forma de lidar com a dor. A vida pode voltar a ser um espaço de possibilidades — mesmo quando agora parece impossível enxergar isso.


Para familiares e amigos

Conviver com alguém que está em sofrimento pode ser desafiador e, muitas vezes, confuso. Nem sempre os sinais são claros: mudanças no humor, isolamento repentino, alterações no sono ou mesmo frases sutis sobre “querer desistir” podem indicar que algo não vai bem.

Nesses momentos, mais importante do que ter respostas prontas é estar presente. Perguntar como a pessoa se sente, oferecer escuta sem julgamentos e mostrar disponibilidade já são atitudes poderosas. A ciência mostra que falar sobre pensamentos suicidas não incentiva o ato — ao contrário, abre espaço para que a dor seja compartilhada e, assim, diminua o risco.

O papel de familiares e amigos não é substituir um tratamento, mas encorajar a busca por ajuda profissional e manter-se como rede de apoio. Pequenos gestos de atenção, como uma mensagem, uma visita ou um convite para conversar, podem representar um elo entre a pessoa e a possibilidade de seguir vivendo.


Um convite à vida

Falar sobre prevenção do suicídio é, acima de tudo, um exercício de humanidade. Cada vida importa, cada história merece continuidade, e cada gesto de cuidado pode ser decisivo. Seja você alguém que está enfrentando momentos de dor ou alguém que deseja apoiar, lembre-se de que pedir e oferecer ajuda são atos de coragem. A saúde emocional precisa ser reconhecida como parte essencial da vida — e cuidar dela é uma forma de valorizar a existência em sua plenitude.


📌 Recursos de apoio

No Brasil, o CVV – Centro de Valorização da Vida atende gratuitamente pelo telefone 188 ou pelo site cvv.org.br.

Fora do Brasil, procure os serviços locais de apoio emocional e emergência — muitos países oferecem linhas gratuitas e sigilosas.

Em qualquer lugar do mundo, buscar acompanhamento psicológico e médico é um passo fundamental para transformar a dor em possibilidade de vida.


*Bianca Breda é Psicóloga e Psicoterapeuta Cognitivo Comportamental com atuação clínica desde 2008, além de Especialista em Terapias Cognitivas pela Faculdade de Medicina da USP e em Distúrbios do Sono pela Unifesp com atualização pela PESI Continuing Education Mental Health – USA.

Mais informações pelo site biancabreda.com.br ou pelo instagram @psicobiancabreda.


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