A mineira Ana Nice, moradora de São Bernardo há 28 anos, foi eleita para o seu primeiro mandato como vereadora pelo PT com 4.090 votos.
Mesmo estreando no Legislativo, pode-se dizer que sua atuação política não é recente, visto que sempre foi uma dirigente atuante no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Ana é funcionária licenciada da Panex desde 2011, empresa que recentemente anunciou que deixará a cidade. O assunto foi um dos temas tratados na entrevista que a vereadora concedeu ao SBC INFO.
Nesta primeira parte da reportagem, a parlamentar também falou sobre os desafios da legislatura e a participação feminina na política.
A segunda parte da conversa será publicada nesta quinta-feira, dia 09/03.
Sindicalismo, PT e Câmara
Questionada sobre a diferença entre ser dirigente sindical e vereadora, Ana confirma que as dificuldades são maiores. Sente-se cobrada, mas apresenta segurança diante dos desafios. “Enquanto sindicalista, você lida com um grupo, um segmento. Apesar do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC ter uma participação maior na cidade, agora eu sou representante de todos os munícipes. Nós adotamos o gabinete de portas abertas e a população tem vindo cobrar bastante quais as políticas para a cidade”.
Ainda a respeito das dificuldades do novo cargo, aponta a falta de respostas às solicitações e o partidarismo como os principais obstáculos. “Infelizmente, não temos respostas para os ofícios e requerimentos que encaminhamos. Eu tenho dito que sou vereadora do Partido dos Trabalhadores, mas estou aqui para defender o melhor para a população. Não é por que o projeto é do partido A ou B que vou deixar de votar se for bom para a cidade. Da mesma forma, espero que o Executivo também acate as demandas que vêm do nosso gabinete. Que ele entenda que é uma demanda da população e não da Ana Nice”.
A vereadora também garante que seu partido a deixa à vontade para trabalhar, inclusive para votar a favor de temas ou projetos indicados por adversários. “O que a gente acha necessário conversar, a gente conversa. Em relação à CPI do Lixo, por exemplo, a gente conversou entre todos, inclusive com o ex-prefeito Luiz Marinho, e achou que deveria votar a favor da abertura do processo”, explica a parlamentar.
Projeto pessoal e participação feminina
Ao ser questionada sobre seus projetos pessoais dentro da política, Ana Nice prefere manter seu foco no coletivo. “Eu aprendi na minha vida política que a luta e as conquistas vêm do coletivo e não de projetos individuais. A gente luta de forma coletiva para melhorar o emprego, melhorar o salário. E na cidade, a luta também é coletiva. Foi dentro desse contexto que eu aceitei esse desafio de ser vereadora”, esclarece.
Ana Nice é a primeira mulher negra eleita para o Legislativo municipal. Ciente da importância dessa representação, lembra que a participação feminina está presente e atuante em todos os movimentos sociais. Destacou também as recentes conquistas políticas, como a eleição da primeira presidente, a também petista Dilma Rousseff. “De forma geral, as mulheres ainda ganham menos do que os homens e não ocupam os principais cargos, mas elas estão presentes no movimento sindical e na política. Para aumentar essa participação é um processo lento. É um trabalho que começa pela educação, estimulando a igualdade, eliminando o preconceito. E hoje isso pouco se faz”, destaca.
A “traição” da Panex
Funcionária da Panex, licenciada da função desde 2011 para que pudesse se dedicar à questão sindical, Ana acredita que o fechamento da empresa em São Bernardo foi mais que uma surpresa. “Foi uma paulada na costas”, desabafa. Segundo a vereadora, enquanto representantes da companhia se reuniam com o sindicato para uma “pauta boa”, que visava novas contratações, funcionários eram avisados da demissão em massa.
A situação ganhou contornos dramáticos com os quatro dias de acampamento montado por operários em frente ao portão principal da unidade fabril localizada no bairro Planalto. Uma comissão ainda trabalha com a possibilidade de reverter a decisão da companhia.
Ana faz ainda uma análise sobre o fechamento da empresa que envolve outros fatores. “O capital não tem pátria nem fronteira. Hoje vivemos uma guerra fiscal entre estados e municípios. A luta do sindicato é buscar alternativas para as empresas continuarem aqui. No caso da Panex, a empresa optou por mudar para o Rio de Janeiro, mas a forma como a empresa agiu com os trabalhadores causou muita indignação”, afirma a parlamentar.