Inaugurada em 1957 e localizada na região central, a ETEC Lauro Gomes reúne mais de três mil estudantes aprovados em vestibulinho próprio, em sua maioria atraídos pela oportunidade de obter um diploma técnico e uma profissão.
Na madrugada da última quarta-feira (16), por meio da hashtag #SalveoETIM, a escola figurou entre os assuntos mais comentados do Twitter após uma campanha promovida pelo Grêmio Estudantil Cinese formado por alunos da instituição.
O objetivo da ação na rede social era chamar atenção para as mudanças anunciadas pelo Centro Paula Souza (CPS), autarquia do Governo de SP, responsável pela gestão das escolas técnicas no Estado, que pretende promover readequações na grade curricular da ETEC são-bernardense.
Galera, pra que caiu de paraquedas e não sabe o que é o ETIM da #SalvemOETIM segue o fio.
O ETIM é uma modalidade de Ensino oferecido de modo gratuito pelo Centro Paula Souza nas Etecs, que é a junção do Ensino Médio com ensino profissionalizante+
— KITO 🐣🐥 (@ErickSalesz) September 16, 2020
A polêmica começou dias antes, quando a direção da Lauro Gomes recebeu memorandos enviados pelo CPS anunciando o bloqueio de turmas e cursos que apresentaram alto índice de evasão ou baixo número de candidatos por vaga nos vestibulinhos recentes.
Segundo os documentos, os bloqueios podem ser por um semestre ou por tempo indeterminado, e afetam o Ensino Médio Regular e o Ensino Técnico Integrado ao Médio (ETIM), sendo este último o alvo da campanha promovida no Twitter.
Uma carta aberta à população, elaborada por professores da instituição, também começou a circular pelas redes sociais reunindo críticas à conduta do CPS. Os docentes temem por um possível prejuízo da carga horária e uma consequente dispensa de profissionais.
Eles também reclamam da burocracia e do prazo apertado para elaboração de novas propostas e envio de recursos na tentativa de evitar uma possível extinção de cursos e turmas (leia abaixo).
Há ainda uma petição on-line, criada para pressionar o CPS, que já reuniu mais de 4 mil assinaturas e deve ser entregue a autoridades públicas na próxima semana (acesse aqui).
Diante das críticas, a data limite para contestação dos memorandos foi estendida até a próxima sexta-feira, dia 25 de setembro, mas o embate entre comunidade escolar e Centro Paula Souza deve se estender além daquela data.
NOVO ENSINO MÉDIO
As mudanças na ETEC guardam relação com a Reforma do Ensino Médio, transformada em lei durante o governo do ex-presidente Michel Temer, que impõe novas diretrizes e alterações no currículo escolar.
Em 2017, o Centro Paula Souza apresentou um novo modelo de ensino integrado à educação profissional que prevê carga horária menor do que a dos cursos do atual ETIM. Estima-se que a redução pode chegar a mais de 800 horas ao longo de três anos.
A iniciativa já foi alvo de críticas naquele ano, mas o Governo de SP, desde então, defende que a experiência amplia a oferta de vagas no ensino técnico.
A movimentação da comunidade da ETEC nas redes sociais acabou ganhando contornos políticos, despertando comentários de adversários da gestão Doria. O pré-candidato a prefeito de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL), por exemplo, citou a escola ao falar sobre a reforma do Ensino Médio, alegando que a mudança foi “enfiada goela abaixo”.
Dória se orgulha de dizer que SP é o primeiro estado a ter feito a reforma do ensino médio aprovada por Temer. Pros alunos da ETEC Lauro Gomes, em São Bernardo do Campo, a reforma foi enfiada goela abaixo e significa redução de até 800 horas na carga horária.
— Guilherme Boulos (@GuilhermeBoulos) September 16, 2020
Entre os relatos colhidos pelo SãoBernardo.INFO, é quase unânime o medo de que a readequação proposta pelo CPS afete a qualidade da formação proporcionada pela ETEC, atestada pela classificação da instituição como aquela com melhor desempenho no último ENEM entre as escolas públicas instaladas em São Bernardo (veja aqui).
O Sindicato dos Trabalhadores do Centro Paula Souza (SINTEPS) vai além e vê falta de sensibilidade no posicionamento da autarquia. “Impor mudanças drásticas como essa, que restringem o acesso à educação pública de qualidade para milhares de jovens e ameaçam os empregos de centenas de professores da instituição, em meio a uma pandemia gravíssima como a que estamos vivendo… é de uma falta de sensibilidade inominável!”, diz a nota da entidade.
O QUE DIZ O CENTRO PAULA SOUZA
Procurado pela reportagem para se manifestar a respeito das mudanças na ETEC Lauro Gomes, o Centro Paula Souza rebateu as críticas alegando que o número de vagas será ampliado, que a carga horária dos professores não sofrerá alteração e que os atuais alunos não serão impactados pelas futuras readequações.
A assessoria da instituição também reforçou o compromisso do CPS com a qualidade de ensino e lembrou que, no ranking que leva em conta o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) de 2019, divulgado nesta semana pelo Ministério da Educação, 50 das 100 melhores escolas públicas do Brasil são ETECs.
Leia abaixo, na íntegra, o texto encaminhado pela autarquia.
“A Assessoria de Comunicação do Centro Paula Souza informa que está previsto para o ano letivo de 2021 uma ampliação na oferta do número de vagas no ensino profissional gratuito e de qualidade, mantido pela instituição, assim como ocorreu em 2019 e 2020.
Importante destacar que, há muitos anos, semestralmente, é feita uma consulta às unidades para readequação de cursos que tiveram evasão/perda (operacional/acumulada).
O prazo para as escolas apresentarem justificativas dos cursos, inclusive do ETIM, para o próximo ano foi ampliado para 25/09, devido aos encaminhamentos relativos ao processo seletivo (Vestibulinho).
Independentemente da escolha realizada pela unidade sobre o ETIM, MTec (Novotec Integrado) e itinerários em adequação a legislação do Novo Ensino Médio, a carga horária dos professores não sofrerá redução. Portanto, cabe reforçar, não há qualquer proposta de redução no quadro/jornada de docentes.
Por fim, destacamos que não existe qualquer alteração na dinâmica dos alunos que se encontram regularmente matriculados.”